quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A Insígnia da Máscara e os Diabos Mascarados – Parte 1

Mamba - a velha bruxa da montanha do Oriente


A HISTÓRIA DA MÁSCARA

A origem das máscaras remonta a reprodução das cabeças de animais nos rituais primitivos, onde eram imbuídos de um poder misterioso que autenticava a autoridade do sacerdote sob a tribo, e do âmbito religioso - reservado a alguns poucos - a máscara migrou para sua popularidade. A balaclava ucraniana veio mais tarde aderir ao mesmo fim que a máscara comum, ou seja, o da camuflagem, esconder o verdadeiro rosto e mostrar outro, e ainda, como nas saturnálias, teve o sentido de inverter os papéis de comando social.

Mais tarde ela foi adotada nas festas de carnaval e teve como função principal o efeito catártico, onde libertava os foliões dos sentimentos e pensamentos azedos. Nas festas de Epifânia, a máscara parodiava os membros do clero e a missa do burro onde era zurrada ao invés de rezada.

O carnaval originalmente era uma festa grega suscitada em 600 e 520 a.C., e propriamente consta que tinha sentido religioso e de agradecimento aos deuses pela colheita, representado pelo vale de Carna, a deusa Carna, passando para a interpretação posterior do latim no advento do cristianismo, como ‘carne vale’, devido o pós-festa no ‘adeus carne’ motivado pela igreja católica e sua criação da quaresma. O Carnaval em Roma se prolongava por sete dias nas ruas, praças e casas, indo de 17 a 23 de dezembro. Todas as atividades e negócios eram suspensos neste período carnavalesco de tempos vitorianos, pois era um tempo de alvedrio e os escravos ganhavam liberdade temporária para fazer o que almejassem e as restrições morais eram descuradas. As pessoas trocavam presentes, um rei era eleito por charada e comandava o cortejo pelas ruas (Saturnalicius princeps) e as tradicionais fitas de lã que amarravam aos pés da estátua do deus Saturno eram retiradas, como se a cidade o convidasse para participar da folia, e as máscaras ganhavam vida em todos os rostos. Esse costume originou as festas a fantasia.

O hieratismo da máscara carnavalesca na Europa, mais precisamente em Veneza vinha decorar o rosto de acordo com as vestes, e eram muito comuns as damas e cavalheiros usarem para encontros nas gôndolas, onde o clima de galanteio e romance reinava nas noites italianas. Tão importante a ser observado era o aspecto ético sobre a ‘capa’ da máscara, onde tanto o Bem quanto o Mal podiam ser camuflados pela máscara. Mais tarde os filmes dos heróis e seus respectivos vilões todos mascarados, com os propósitos de defesa ou ataque vieram confirmar isso.

Em Portugal e na Espanha, a máscara ibérica se tornou um projeto e, além disso, recebe o nome de diabo, e por vezes o fotógrafo lisboeta Hélder Ferreira faz crer em suas indagações que elas descendem dos cultos celtas, apesar das investigações enfermamente concluídas, como observaremos mais adiante. A máscara veio ganhar o seu glamour mais tarde com a chegada do teatro.

As línguas celtas não conheceram o nome máscara; elas o tomaram emprestado do latim ou do romano de acordo com a rica troca entre a cultura italiana e o povo do norte. Mas a arqueologia forneceu um certo número de camuflagens celtas (e diversas  figurações) e foi possível deduzir de algumas descrições mitológicas irlandesas que certas personagens ou enviados do Outro Mundo usavam máscara. O desaparecimento de todos os termos celtas originais com a cristianização permite suspeitar da existência de algum dado tradicional importante que não é mais acessível, nem mesmo pela tradição folclórica dos moradores dos países célticos, como a Irlanda.

O teatro surgiu como novidade artística na Grécia do século V a.C., trazendo normas estéticas, temas e convenções próprias. Segundo Aristóteles (384-322 a. C.), as principais formas dramáticas então conhecidas, a tragédia e a comédia, evoluíram, respectivamente, do ditirambo (hino em uníssono) e das canções fálicas, onde as máscaras cobriam cada personagem. O passo decisivo para a fixação e evolução desse teatro foi, sem dúvida, a instituição Estadual dos concursos públicos, em 534 a. C., o que coincide com a estabilização do governo democrático em Atenas. A regulamentação dos concursos exigia a inscrição, por candidato, de três tragédias e um drama satírico e mascarado. As trinta peças que sobreviveram de mais de mil escritas só no século V, são, ao lado da obra teórica de Aristóteles, excepcionalmente fragmentadas, os principais documentos que temos para embasar nosso conhecimento do que foi o teatro grego. Os efeitos visuais de espetáculo grego ficavam por conta da indumentária e do uso da máscara.

A máscara é um dos componentes mais importantes empregados na Catarsis, termo empregado por Aristóteles para definir a finalidade última da tragédia como sendo a purgação ou purificação das emoções de terror e compaixão. A complexidade de determinar um significado preciso para tal conceito está relacionada tanto a problemas de tradução quanto a problemas de interpretação. Catársis em grego pode significar tanto “purgação”, no sentido médico de limpeza do corpo, como “purificação”, no sentido religioso de limpeza de espírito.

A máscara teatral - que é também a das danças sagradas - é uma modalidade da manifestação do Self universal. A personalidade do portador em geral não é modificada; o que significa que o Self é imutável, que ele não é afetado por essas manifestações contingentes. Sob outro aspecto, entretanto, uma modificação pela adaptação do intérprete ao papel, pela sua identificação com a manifestação divina que figura, é o próprio objetivo da representação. A máscara, especialmente sob seus aspectos irreais e animais, é a Face divina e mais particularmente a face do Sol, atravessada pelos raios da luz espiritual. Assim, quando nos dizem que as máscaras de t’ao-t’ie (glutão) foram progressivamente humanizando-se, não se deve ver nisso um sinal de civilização, mas o esquecimento crescente do valor do emblema.

É notório que tudo o que é tradicional veio do Oriente para o Ocidente, e sendo assim, melhor seria iniciarmos uma análise do simbolismo da máscara a partir do nascedouro que pode dar ‘Orientação’ para esta apreciação, mas isso é coisa para a próxima publicação.


Postarei as referências bibliográficas na última publicação sobre a insígnia da máscara.


Por Sett Ben Qayin 

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Bruxaria Hereditária


Vôo Lupino

A antiga Arte hereditária decorre de uma série prática de atos, conhecimentos, costumes, ritos e crenças mágico-religiosa, comuns a certa família. Talvez, a única prática realmente comum entre às diferentes famílias de bruxos hereditários, é a veneração de seus antepassados, também chamado de culto aos mortos, visto que, categoricamente, o vizinho não tem acesso aos mistérios e segredos da família ao lado, o que permite que o culto permaneça intacto e a salvo de olhos curiosos e incrédulos.

Em nossa família gostamos de preservar os interesses de assuntos mágicos e ocultistas, e além do que nos é familiar, coletamos o tempo todo, material de fontes clássicas, tradicionais e originais, como por exemplo os livros de Daniel Schulke, que são bastante úteis em feitiçaria, pois ele desenvolveu trabalhos e pesquisas no campo feiticeiro com muita seriedade.

Quando nossos filhos(as) tornam-se envolvidos com o ofício bruxo, eles  começam a usar o material passado à eles. A magia familiar, torna-se operativa fora dos seus rascunhos originais, dando um dinamismo para que a Arte permaneça fluída, e assim como eu e você podemos ler o tempo todo, sempre encontramos um ou outro elemento mágico do qual podemos fazer uso ou incluí-los em nossas práticas, afinal de contas não estamos limitados ou condenados à uma só arte.


Eu tenho visto críticas sobre bruxaria hereditária que mais se parecem com ciúmes e reclamações, um claro sinal de que estão incomodados mas não sabem como transformar isso dentro deles mesmos, preferindo o apontamento alheio, ou no mínimo alguém querendo Ter o controle de qualidade de todas as bruxarias, e tenho realmente ficado surpreso, pois ao invés de podemos ler um conteúdo que nos engrandece, infelizmente lemos 'concorrência', deslealdade, paganismo e um forte sinal de perseguição, mas bruxaria que é bom, nada! Uma doença idêntica ao transtorno paranóide onde a pessoa se vê como aquela que irá ditar regras de como usar a bruxaria ou como ser um bruxo. Felizmente eu posso deixar essas pessoas darem conselhos errados, pois a Arte Bruxa se auto protege e eu não sou dono dela nem ninguém é, afinal de contas, bruxos são livres e minha intenção é contribuir e somar, trazendo um pouco daquilo que eu posso falar, e deixo claro que nem tudo eu posso publicar aqui.

Os enganos entre os praticantes modernos de cultos que contém bruxaria está em acreditar que a bruxaria era a própria religião antiga, no entanto ela é um “ofício” emoldurado numa fé, e por isso, existem dezenas de crenças que refreia o ofício da bruxaria. A antropóloga Sra. Margaret Murray por intermédio de seu livro The Witch-Cult in Western Europe – 1921 demonstrou a bruxaria como um conjunto de práticas mágicas manipulativas que tornam a arte da feitiçaria harmônica, contrariando a si mesma quando afirmou que bruxaria era uma religião primitiva. Bom, é dever de todos os bruxos hereditários anotar sua história, acolhendo o máximo possível do passado familiar, isso nós fazemos mas não espere que iremos publicar isso.

Através de subseqüentes gerações, os materiais hereditários integraram-se com outras práticas mágicas e tomaram caminhos independentes, desenvolvendo-se códigos esotéricos com a cara da família em sua própria corrente de sucessão.

As Tradições Hereditárias são perpetuadas de família para família de formas diferentes, e pode ser passada para as próximas gerações usando-se também outros caminhos. Tradições Familiares são raríssimas, e em sua maioria são altamente secretas e indisponíveis às massas, e preciosamente é incomum se tornarem públicas, e eu mesmo travei um prélio entre parentes até que obtivesse a licença de todos para expor o que aqui no Blog Congrega Lupino consta. Tornou-se esdrúxulo ler conselhos de fora querendo ensinar um bruxo hereditário ser um bruxo hereditário, por essa razão tem abonado a mídia, a fim de desmistificar as diversas máscaras impostas por bocas de terceiros, todos de fora, aos bruxos que nasceram no seio de uma tradição, com dons e legados próprios e inenarráveis, com zerézimas capacidades publicadas justamente porque são pertinentes a família e ninguém mais.

Quando os membros de uma Tradição Familiar interagem com vagantes da Arte Tradicional, geralmente há uma troca rica de conhecimentos práticos e uma garantia de que a sabedoria antiga sobreviverá integralmente. Aqui dei preferência ao termo ‘vagante’ ao de ‘peregrino’, uma vez que peregrino é aquele que caminha sem saber para onde está indo, e o vagante é aquele que conhece os caminhos para onde pode ir e vaga entre eles com sua ausência de um lugar pro outro, um termo bastante mercurial e próprio para o bruxo tradicional ou hereditário, próprio do sangue sábio, dessemelhante ao bruxo tradicional que acastela somente a animação pagã e a reconstrução de uma era morta, cuja história vem dos livros e das pesquisas culturais e antropológicas. Aqui falo de uma bruxaria tradicional oriunda do sangue bruxo e hereditário, realmente transmitida como sempre foi, distante das pseudo-bruxarias tradicionais que vem falar da cultura de um povo ou país, estudadas por google acadêmico que tanto está na moda e nas livrarias virtuais.

O que caracteriza uma arte familiar e doméstica, para além da herança bruxa, é o acúmulo de conhecimentos e obras aprendidas por diversas fontes perenes, que a própria Arte Bruxa traz para dentro da família, ensinadas de um para o outro, dentro da mesma família ao longo do tempo, coisa que se verifica claramente ao consultar posteriormente o perenialismo e seus autores tradicionistas. Alguns costumes diferem até mesmo dentro da própria raiz familiar, onde a tradição é transmitida oralmente de pai e ou mãe, para filho (a). Estes, por sua vez, incorporam rudimentos estudados depois, às suas práticas, sem contudo, perder o caráter “primo” da tradição, onde os princípios fundamentais estão fundados como um alicerce sagrado. É bem verdade que nem todos os nascidos na família irão assumir o voto sanguíneo para o ofício benzido por sábios, até porque nem todos possuem vocação apesar de carregarem o sangue bruxo nas veias, estamos falando de uma arte mágica e um preceito mágico de família que serve de esqueleto para que se possa exercer a fidúcia contida na forma da tradição bruxa familiar.
Comunhão Familiar
Há muito para se falar sobre tradição hereditária, ou como costumamos dizer, tradição familiar, no entanto, limito-me a falar da tradição da minha família, avocada como Tradição Familiar Lupino, do qual Lupino é sobrenome Italiano e bastante Stregonesco.
Não traçamos círculos em todos os rituais, o ambiente dentro de casa é tido como sagrado e puro, bem como toda a Terra é, considerando que a família sabe cuidar do lar melhor do que ninguém, o Lar se torna nosso Templo. A Terra é sagrada para nós, assim como nossa casa, pois ela é nosso habitat, e uma vez que somos íntimos dos espíritos e da própria natureza, nos sentimos parte do todo sagrado que habita nossa morada. O círculo ou muralha servem para conter a energia em ritos grandes e pesados, e eu ainda estou para escrever sobre isso.

As direções dos quatro cantos da Terra é bússola que faz da encruzilhada o nosso único ponto. Esta também é uma prática da qual a história relata como derivada dos costumes helênicos dos greco-romanos, onde mandavam avisar os quatro cantos do mundo sobre a situação que estava sendo criada magicamente e qualquer homem ou mulher nascidos gregos podem atestar. Estes costumes cerimoniais foram perpetuados pelas tradições mágicas hereditárias e, posteriormente foi objeto de estudos do astrólogo inglês John Dee, e que futuramente foi introduzido na Ordem Hermética da Aurora Dourada. É muito comum escutar um bruxo hereditário afirmar que identifica certos preceitos das ordens mágicas, pois são muito tradicionais e similares, pois partem da premissa perene e uma visão de mundo que é tradicional. Os de fora não conseguem alcançar o que isso significa, mas nem por isso podem afirmar que o único tradicionalismo que existe é o deles.

Existe um alarme comum entre os Lupinos, desde que sujeito a princípios estabelecem quase que obrigatoriamente, a continuidade hereditária, mas isso não nos liga ao culto de fertilidade, contudo, “O morto que não deixar filhos descendentes, não receberá oferendas”, e isso para nós, é uma inversão de valores, uma vez que os nossos espíritos não permanecem sujeitos à fome eterna graças à tradição familiar.

Esse cuidado em tratar do parente falecido, caracteriza o culto dos antepassados, e somente os membros da família detém a posse de sua liturgia, pois assim diz o ditado: “Se você não possui o mesmo sangue, não sabe os gostos dos nossos manes, não conhece a senha e nem como chamá-los, então não terá resposta!”, e isso só faz sentido para quem nasce nesse costume e cresce com isso desde pequeno. 


Quero fazer um parênteses aqui para arguir um assunto bastante pertinente, na voz de minha mãe Rhea: "Cultos aos mortos ou aos antepassados possui o mesmo significado que contém a ‘macumba’ africana em todos os países, onde, segundo os dicionários etimológicos ‘Ma’ significa ‘morto’ e ‘Cumba’ significa ‘culto’, toda macumba é um culto aos mortos. Se todos os bruxos do planeta cultuam seus ancestrais e interagem com eles, podemos afirmar certamente e sem preconceitos que todos os macumbeiros são bruxos e todos os bruxos são macumbeiros, até porque, desde que witches é sinônimo de ‘sábios’, onde ‘witchcraft’ é arte bruxa (arte dos sábios), na cultura africana há muita sabedoria", e ainda faço questão de lembrar que o Egito sempre esteve no continente Africano e a magia subiu no mapa através do trafego mercantilista antigo, culturas foram trocadas ou entregues de um para o outro, onde ‘entrega’ é sinônimo de tradição, que se justifica pela ‘entrega’ da coisa pessoalmente, de mão para mão, de olho para olho, de mente para mente, de alma para alma, de espírito para espírito.

Esse pensamento está verticalmente ligado à crença na vida, após vida, onde a morte é um estado de passagem de volta à forma divina, ao qual também dá “frutos”, se subdividindo em duas partes sendo que, somente uma reencarna, enquanto a outra permanece na forma milagrosa.
Eu sinceramente fico refletindo ao ver bruxos competindo e dando conselhos gratuitamente como ditaduras enchendo a Internet de porcarias tradicionais, onde o conselho quer impor sua verdade ao perene, o quão pequeno é. Quando o conselho desintegrar e a moda passar, será como desencarnar, dá pra rir muito da pequenez por não ter aproveitado o tempo que lhes fora dado, para contribuir mais, oferecer mais em estudos-trabalhos-pesquisas no campo da feitiçaria, e é com o objetivo de oferecer mais, mas não livre das limitações que me obrigam a calar-me, que exponho um pouco da tradição familiar da qual conheço, então ao invés de críticas, voltemo-nos à doutrina exposta.

Não é nada comum uma pessoa que não é do sangue e nem possuiu vínculo com o morto, prestar-lhe homenagem ou culto, seja para honrar, pedir favores, alimentar ou apenas prestigiar, porque inexistem vínculos, laços familiares que lhe garanta a correspondência do chamado, e muito provavelmente, o espírito Mane não irá lhe reconhecer, apesar de nutrir-se da sua oferenda, contudo não está proibido conhecer o assunto. Uma insistência no chamado pelo “de fora”, ocasionará o tremendo risco de chamar a atenção do Pênate familiar, que é um parente errante da família e que pode trazer graves conseqüências a quem o chamar. Um bruxo hereditário que usou mal os dons familiares da Arte quando estava vivo, e não seguiu preceitos nem a tradição, ele se guiava com o que lhe ‘dava na telha’ de acordo com seus instintos egóicos, isso é um Pênate, um espírito sem regras nem amor pela tradição ou códigos familiares, um espírito que tanto pode lhe ajudar (se lhe convier) como pode lhe atrapalhar e causar incontáveis estragos, não existe caução quando um ser desse porte é invocado e libertado indevidamente, e dá o maior trabalho prendê-lo novamente no jazigo.

Aqui reside um dos mistérios familiares e é por isso que somente a família guarda as chaves para o repasto fúnebre anual “Ferunt epulas ad sepulcrum quibus jus ibi parentare, modo mortui funus ad nos pertineat”.

Um indivíduo só pode absorver aprendizado familiar ao ser educado numa tradição familiar, através do convívio no dia-dia, como fazem as alcatéias, e isso demora anos para que se possa sorver o último dos costumes, e aqui reside um pequeno aspecto do xamanismo ocidental, do qual todas as ordens mágicas, covens, covines e congregações copiaram.
Respondendo à dúvida da gata amarela, Bruxos hereditários geralmente (mas não é regra) se unem à um ou mais Conventos de Bruxaria Tradicional, e todos são ali "bruxos tradicionais".

Parafraseando o código de Manu, III, 138; III, 274, que versa sobre a importância do sangue familiar desde tempos longínquos, como mostra: “Oxalá em nossa linhagem nasçam sempre em sucessão filhos que nos ofereçam, no decorrer dos tempos, o arroz cozido em leite, o mel e a manteiga purificada”.

Em nossa crença não é diferente. Se nossos sacrifícios sempre forem realizados nas datas certas seguindo os ritos tradicionais, nós encontraremos no antepassado um deus protetor, bom e compassivo. E para os que não descendem dele e ainda assim insistirem na sua invocação, a ostilità e a malattia os recairá, isso é regra alimentada pela própria egrégora da liturgia.
O fuoco di caminetto guarda a alma do Lararium, onde residem os Manes, conhecido pelos Stregones como Lare, e é um dos focos centrais de nosso interesse familiar.

É dessa forma que nós alcançamos toda força e auxílio do qual necessitamos, pois, uma vez que os nossos antepassados usufruem dos mesmos prazeres em sua segunda vida, nós também nos encontramos felizes, e com essa troca de bons serviços, o poderoso elo une todas as gerações da mesma família, fortalecendo os laços mágicos e a egrégora.
Nenhuma tradição familiar é igual à outra, mesmo existindo o “modus operandi” parecido, haja vista que cada família mantém as cerimônias que lhe são próprias, e do mesmo modo as nossas festas particulares, nossas fórmulas, oração, liturgia, mitos e hinos, isso nos dá liberdade e caráter propriamente.
Lararium Lupino

Com o Lararium bem vivo dentro de casa, nós os filhos, podemos encontrar nossos pais e parentes, invisíveis, mas presentes, tanto ao sair quanto ao chegar em casa, e sempre lhes dirigimos uma benção.
Esse costume também foi constatado nos Vedas, que por vezes os hindus invocavam Agni como deus do fogo doméstico, e com isso, observamos que tais costumes de “cironis hereditate” não pertencem exclusivamente ao povo italiano e suas famílias descendentes, e particularmente eu conheço uma família de feiticeiros libaneses que mantém um sistema parecido.

Os nossos deuses formam a própria família e por isso, somos o sangue divino. Em nossa tradição, o poder não é somente passado de varão para varão, pois não temos as implicações políticas dos romanos, nem estamos subordinados a tais leis, para tanto, reconhecemos que nos homens, reside o princípio misterioso do ser e por isso, transmitimos a centelha divina de vida, enquanto as mulheres possuem o princípio misterioso da transformação e geração do ser e por isso elas dão Luz, dando um corpo para a centelha divina habitar.

Em nossa fé os deuses Manes, assim como nós, estão subordinados aos deuses Maiores primordiais, A Mãe criadora e o Pai, quais nomes remontam a origem da nossa família atestada pelo sobrenome, e por isso ainda existe o sacrifício de sangue, bem como os ritos de purificação, porém, não estou autorizado discorrer sobre esse feito, mas posso dizer que em certos dias, fazemos um banquete para nossos deuses e oferecemos presentes, leite, mel, vinho, arroz, frutas e assamos uma carne vitimada para eles, e em troca disso pedimos proteção, que tornem nossos campos férteis, nossas casas prósperas e amores virtuosos, e ainda enfeitiçamos com paz generosa algumas situações que nos interessam muito.

É inegável a influência de princípios mágicos em nosso costume, pois cada membro busca acrescer seus conhecimentos de acordo com seu livre arbítrio, e ninguém está proibido de aprender novos ofícios, e sim, somos inclinadamente humildes para afirmar que aprendemos tanto com os mais sábios quanto com os menos sábios, uma vez que estes últimos nos ensinam o que não devemos fazer, e um exemplo disso são esses pseudos-bruxos do youtube e do mercado livre. Os métodos para contato com os espíritos e os métodos divinatórios utilizados por nós, vão desde uma simples técnica hermeneuta a um sagrado oráculo tradicional, bem como a bibliomancia, cujo espírito oracular é alimentado pela família há gerações.

As práticas feiticeiras são para nós muito importantes, numa situação onde você não consegue mais se auto-ajudar, o socorro vem do plano invisível, e principalmente onde você já agiu no plano material por todos os meios possíveis sem êxito, é hora de ‘macumbar’ sem dó nem piedade.

O feiticeiro hereditário, desde pequeno cresce aprendendo que é comum e natural pedir favores aos espíritos de autoridade. Citando Norman Gills “Um bruxo é alguém que pode conjurar um espírito”.
Nós mantemos tudo em boa ordem, desde o livro dos Lobos, até o fogo central.

O fogo central, também chamado de Lares é representado de três formas as quais conhecemos:

a) Os Lares Praestites, representados com dois jovens sentados, empunhando uma lança na mão esquerda e um cão ou lobo entre eles;

b) Os Lares Rustici, representados com um phalo rústico como um tronco apenas lavrado;

c) Essa é a terceira e última representação dos Lares antigos que temos conhecimento, muito comum, instituída durante o império romano como Lare Familiaris e é representado com um adolescente coroado de flores, com a pátera, a cornucópia e um animal doméstico, por vezes a imagem da deusa Vesta aparece junto a ele. O nosso Lararium é um santuário familiar e doméstico, como um templo, e contém elementos dos três Lares acima.

Em comparação observada, notamos que a antiga língua dos gregos tinha uma palavra para designar a família, a qual bastante significante era “epístion” que em seu profundo sentido traduz “aquilo que está junto ao fogo”. Com isso, nota-se que o antigo sentido para se traduzir o que era uma família na antiguidade, mantém o mesmo sentido nos dias atuais. Era, pois, um conjunto de pessoas que se reuniam em torno da fogueira, cuja fé autorizava invocar os mesmos deuses e celebrar os antepassados, tal qual mantemos a chama do Lararium acesa, já que assim dita à tradição hereditária: “Lare extinto, família extinta”.

Por Sett Ben Qayin 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O Rito do Vaso das Oblações


É com grande júbilo que venho hoje, tornar público um rito Lupínico para aflorar os dons.
Esse ritual pertence a Tradição Familiar Lupino, e aqui constará exposto de acordo com a autorização dos Elderes Lupinos. Vamos disponibilizar pela primeira vez, esse rito Lupino que é uma das chaves constantes de uma série de rituais luminosos que podem ou não tocar o âmago do shapeshifiting a partir de sua essência.
O ritual a seguir, não é para ser feito sem orientações adequadas, e não nos responsabilizamos pelos seus efeitos sem a devida investidura.

Anfora dos dons



"Júpiter não queria que o Ser-Humano jogasse sua vida fora, não importasse quanto outros malefícios pudessem atormentá-lo”. 



Na noite mais escura ou quando a lua estiver com o barco fora das águas, você fará uma ânfora de barro ou argila, e ela conterá o vinho, azeite e grãos, e ficará semi-sepultada sob o leito de Ceres, e sobre o Sussurro da Terra. 
No cinto da ânfora devem arder 12 chamas, uma de cada cor, do lado esquerdo flores, e no direito uma cornucópia. Na Nyx do rito você conjurará o fogo multi-cor, e portando de volta seus dons e herança, você trabalhará 12 segredos para manter o conteúdo!




A CONVOCAÇÃO DO DESPERTAR

Vós, Espíritos do Tronco do meu próprio Imo!
Atentai para o encantamento do Vosso Regressar!
Oh, Vinde vós em meu vaso em semelhança!
Tu amigo de meu Coração, Carne, Sangue e Espírito!
Da famigerada família de Reprobus!
Conforme eu acordo, assim Tua alma se levanta e desperta na minha!
Eu estou aqui, agora marcado como um templo de salvação!
Eu sou aquele(a) de sangue Lupino!
Que ao sentir o cadáver que se agita, 
Luxuoso de consumo, 
Sorri-me a serpente dançarina,
Lembrando-me com os olhos, 
Em torno de meu bastão!


PARA PAN’DORA

Oh Dora cujo cetro desabrocha as flores 
Oh Senhora, de imensidades e rara beleza, 
Deixa renascer o perfume sadio na face da divina vingança, 
No imenso vazio da escuridão que será preenchida de luz. 
Pelo Olimpus de Nosso Senhor de sete bastões, 
Para reviver a Mística beleza fêmea, 
Quando os toques suaves dos Antigos que não dormem, 
Passearem na casa de todos os dons, 
Pandora de cabelos de ouro,
Vestida de inocência!
A primeira formosura entre os semi-deuses!
Ato contrário das contendas sagradas,
Amante de Epimetheus, e castigo da humanidade,
Todos os dons, Todos os dons, Todos os dons!
Em nome de Vulcano eu te moldo do barro!
Em nome de Minerva eu visto suas formas!
Em nome das Graças eu orno sua natureza!
Em nome de Vênus eu embelezo sua face!
Em nome de Apollo eu canto sua cura!
Em nome de Ceres eu frutifico suas mãos!
Em nome de Netuno eu abro a superfície de suas pérolas!
Em nome de Júpiter eu lhe torno pura!
Em nome de Juno eu te personifico com o desejo do saber!
Em nome de Mercúrio eu te faço astuta e ousada!
Oh Senhora renascida e recusada pelo Oráculo,
Eu me ofereço como teu Vaso!
E Quatro Santos eu devo liberar, 
Phronésis, Temperare, Coraticum, Justitia!  
Para nossas pedras do castigo,
PANDORA, EVEDORA, LILIDORA!
O Jardim da Virgem de útero fértil. 
Nossa Senhora de primeira beleza mortal! 
Vista-nos na sua ordália e sabedoria. 
Dora - Kyria - Noraia, 
Ouça as minhas palavras e tome vida em mim. 
Santa criada pelas mãos brilhantes, 
Eu te respiro!
Deixe-me ser o vaso amaldiçoado!
Do qual a humanidade temerá!
Submeto-me à inundação das águas temporais,
De Ébero, preencho-me dia e noite! 
Coroada de estrelas negras como o espaço. 
Para resgatar a Semente da Luz, 
À quem primeiro fui dada(o),
E participar de seu mistério profundo.
Tome vida agora!


PARA MER’URIUS


Queime estoraque e sobre a fumaça conjure a voz do seu recesso.

Apelo para Mer'Urius, a quem o Destino decreta para habitar no caminho que leva ao extremo mais profundo do meu inferno!
Mer’Urius Bakkhaios, divina progênie de Bacus, pai da videira, e da celeste rainha Paphian, olho escuro da Deusa que chicoteia com face sedutora!
Quem constantemente chacoalha a varinha feita dos ofícios sagrados!
Imperatriz onde descansa os sonhos Infernais de Prosérpina!
Para trucidar o líder quando o vazio decreto das Fates permanece dias em nossos confins!
Tua é a varinha que faz com que a mosca do sono, pause para descansar sob o olho cansado!
Entregou à Prosérpina o grande Tart'rus largo e escuro e deu-te para sempre fluir e guiar as almas!
Mer’Urius, aproxima-te e pela minha prece inclina-te,
Anjo de Jove, e filho divino de Maia;
Estudioso das diferenças, e maestro altruísta,
Com o íntimo todo intenso, e uma mente judiciosa!
Emissário Célico, de aptidões modificadoras,
Com tua base alada, transversalmente marchas no ar,
Oh, amistoso dos mortais, e vidente da preleção!
Grandioso alterador da vida, a ti a alegria pertence,
Igualmente como as artes, e a elasticidade do ardil olímpico!
Vestido de empossada faculdade para toda elocução aclarar,
Aquele que cuida do perdedor, e a fonte do resultado!
Cuja mão segura o cajado da paz inocente,
Respeitável Arma do dialeto, a quem os homens adoram,
Apóia meus labores, apronta minha vida com fleuma,
Ofereça-me o facundo discurso, e alargue a minha idéia.
Venha Poderoso Mercúrio! Abençoa e assiste o sacrifício, e conceda à nossa mística obra um final feliz!


UM CHAMADO PARA A PRIMEIRA QUE RECEBEU A HERANÇA

Levante a fumaça da rosa, o véu do limão, e a cortina de mirra, e deixe o som que sai da sua língua cantar enquanto convida seu legado para tomar posse em ti.

IN-VOCAÇÃO

Eu sou Pithus!
E me assento sobre o campo laborioso de Érgon feito Fogo Feiticeiro, para estar em En-Ergeia!
ANIMA, PATHOS, PASCHEIN, ARETE!
Diante de Enantia!
Perpetre gênese de minha Éklampsis!
EUDAIMONÍA! EUDAIMONÍA! EUDAIMONÍA!
Sabes hómoios homoiosis!
Conduza-me Kora por Hódos e por Anánkê!
Invoco Pronoia, Henas, Pathe, Dynameis, Katharsis, Harmonia, Sympatheia,
e Hexeis!
Mer'Urius! Condutor das Almas!
Verta Entelechia neste Vaso!
Para me tornar novamente Theospithos!
Como a primeira Elpis!
Eu conjuro Elpis, filha da Noite, para encerrar-se em minha ânphora, até que sejas minha leal Serva Érgonia!
Assim a última Spes!



(vibre o mantra nos quatro cantos do mundo)

PAN DOEAH, DIORA, PAN-DOURA, PANDORAH, PANNDORA, DOROTHY, TEODORA, ENDORA, DOROTHEA, ANESIDORA, PANTA DÔRA, PANTÔN DÔRA, KALÒN KAKÒN, DIODORA!  GAEATHEODOM KORA SIDEREA! AQUELA QUE TUDO DÁ! ANNE SIDORA!

Pandora abrindo a ânfora


Destampe a ânphora, tome um gole do vinho e deposite todo o cálice dentro dela. Em seguida passe os grãos no azeite, tome sua hóstia, guarde o restante na ânphora, e tampe novamente tão logo soprar o legado na alma de Pandora.

O SOPRO DO LEGADO DE PANDORA

“DAIMONES, CHORE, KORA, TOPOS, TERRAE!
CAELUS DIVINORUM, DORA MAE!
NOUSEIDE, PSYCHE TOU PÁNTOS, OURANIOI!
OUSIA, KÓSMOS NOÊTÓS, ETHOSEU, NOESIS!
AIDION, POIOTES, PRUDENTIA, CHORISTEI!
HOMOPOLITUS, MEMORIA, SOPHROSINÉ, AUTARKÉIA!
TEMPERARE, CORDIS, JUSTITIA, ÁGAPE!”



A-VOCAÇÃO AO DAEMON

Sob a fumaça do Olíbano frente à ânfora, queime a chama de ébano e deixe suas preces ecoarem no ar...

...Oh Daemon da Chama Guiada e Ferreiro Enfeitiçador, 
Que forjas as armas de ferro da Libertação Vitoriosa, 
As valiosas Prendas da Sabedoria e Beleza, 
Ouça a mim, pois sou originado de Tua Semente-Sábia, 
A Camuflada Casa de Lupercus. 
Eu sou das Crianças de VULCANUS! 
Teu Sinal incendeia minha testa!
De Teu Clã e Linhagem sou eu, 
Homem-Lobo/Mulher-Loba.
Acorde e Nutra a Serpente Flamejante no interior de Meu Sangue,
Acenda o Ardor Magnífico de meu Legado. 
Pelo Lobo e pelo Bode, pela Serpente e Dragão, 
Grande VULCANUS, Tu Ferreiro da Hulha, 
Deixe o fervor de Teu Poder Feiticeiro
Incandescer brilhante em meu Espírito e Carne pela Sagrada Oliveira Brava,
E pelo Sagrado Nome Triplo
MERCLE: HERA-CLEOS: IDAIO
Decido por ti, Daemon Poderoso!
Na humanidade de ti,
A Riqueza abunda!
Quando nas vossas habitações alegres é encontrado,
Ao passar pela vida dos aflitos e sofredores, os meios suportam a felicidade por ti!
Deixe-me só até encontrar seu poder ilimitado para manter as chaves da consternação e alacridade!
Oh Santo bendito, ouve a minha prece, 
Disperse as sementes da vida aos cuidados de dispêndio,
E assistam-me fervorosamente nos sagrados ritos, 
Conceda aos meus dias e noites um final glorioso e abençoado!

Que assim seja!



Rumine uma folha de Sálvia a fim de permanecer em pé sobre as abóbadas de Kora. 


~ FIM ~

Sett Ben Qayin



Os Segredos de Pandora



Pandora abrindo a ânfora



Venho hoje oferecer-lhes um tema longo, mas que vale a pena. Trata-se do espectro sobre os mistérios de Pandora, de acordo com o olhar que deveríamos verdadeiramente ter sobre esse mito. A partir dele, devemos incentivar mais pesquisas a fim de lapidarmos todas as épocas sob esse enfoque. Este artigo traz a contribuição do Mauro, concedida para releitura sob autorização dos autores dos ensaios originais citados na íntegra in-corpus text est. A Tradução e releitura é de autoria de Sett Ben Qayin.


Pandora e o Conflito:  A percepção errada da misoginia em Hesíodo 



A história de Pandora tem sido vista muitas vezes sob a percepção Grega da origem de uma misoginia. 
De acordo com Ilana Amaral, militante do coletivo "contra-a-corrente Misoginia quer dizer:

“Antipatia, aversão mórbida às mulheres. “Se no sistema a diferença é negada e, finalmente, homens e mulheres vêem a sua individualidade cindida nas representações do masculino e do feminino, que gerações após gerações de homens e mulheres sob o domínio patriarcal viram a sua individualidade negada, desrespeitada, cerceada, isso não significa, em absoluto, que do ponto de vista histórico tal processo seja simétrico. “É precisamente na assimetria das relações como relações de poder que o sistema de gêneros se constitui e na medida em que o feminino representou sempre o outro, a diferença - é essa a fonte de toda a misoginia - é lícito, parece-nos, identificar às representações historicamente ligadas ao feminino - ou parte delas - a luta pela diferença enquanto tal” (in “Teses pelo fim do Sistema de Gêneros”).

Segundo Hesíodo, ela quer é a pior desgraça que homem jamais sustentou (Th. 585), ou ela é responsável pela liberação de uma pletora de males sobre a Terra que não existiam antes (WD 94-5). Mulheres são o motivo que os homens devem trabalhar arduamente (WD 91), e um mau casamento dá dor eterna para o marido (Th. 611-12). Contudo, o texto também revela nesta história de que tudo acontece com o consentimento de Zeus (Th. 613, DT 105), e é na verdade Zeus, que envia a mulher em todo o mundo (WD 84).

Pandora é um dom destinado a ‘acoimar’ os homens para tomar um dom. Ela é de fato um kalon kakon agathoio (Th. 585), e ela serve para contrariar o que o homem abençoado gozava antes da existência. (WD 90). Porém, é justamente porque ela é um equilíbrio contra tudo o que era certo com a primeira raça de homens que não se deve ver os textos de Hesíodo como a fonte de todas as misoginias gregas. Pandora não é responsável pelo seu lote, nem o mal que ela causa sobre a sua própria vontade. Pelo contrário ela é parte de um ato divino para o equilíbrio, o instrumento para a introdução de Boa Contenda em um mundo que só conhecia Bad Strife, e não Strife at all.
Não pode ser coincidência que Hesíodo move diretamente a partir da história dos dois tipos de Contendas para a história de Pandora. Os dois tipos de Contendas não aparecem em nenhum outro lugar nas duas obras. Mesmo o breve interlúdio de "lordes gananciosos por brindes" copiaram a identificação de Pandora com as duas Contendas. Só os ricos podiam dar ao luxo de suportar uma mulher que age como um rumor, utilizando-se todas as lojas da casa (Th. 594-95). Ora, a Boa Contenda força os homens para trabalharem duro, o que é considerado um mal quando se diz respeito às mulheres.  Como eu vou demonstrar, Hesíodo usa as mulheres como um caminho para explicar o equilíbrio na vida entre os bons e maus, e Pandora vem oferecer ‘na raça’ um Ethos. Sua Pandora serve para contrariar o bom-equilíbrio da vida nos homens, tanto quanto não há uma boa Contenda para equilibrar um Bad Strife. 
Enfatizo ainda, que a humanidade erra ao confundir harmonia com equilíbrio. Harmonia é a beleza da concordância, enquanto que equilíbrio é uma moderação entre as partes existentes.

O Mito de Pandora Propriamente

Certamente você já conhece o mito de Pandora. Sabe que uma mulher devido à sua curiosidade, abriu uma caixa contendo todos os males do Mundo. Todos esses males se libertaram e espalharam-se pela Terra, menos a Esperança. Mas, o que a Esperança estava fazendo dentro de uma caixa que contém todos os males do mundo?
Você está errado ao pensar que a esperança ficou lá dentro porque era um bem, e é nessa introdução que farei uma interpretação mais rígida e sob o olhar iniciático deste mito.

O mito conta que os Deuses criaram todos os animais da face da Terra, incluindo o Homem. O Titã Epimeteu ficou responsável pela atribuição dos dons aos diversos animais: força para o urso, visão apurada para a águia, e assim por diante.
Para o Homem nenhum dom especial havia sido dado, e a fraqueza física e de caráter do Homem face aos outros animais havia sido instalada: Sem a força dos fortes, sem a velocidade dos rápidos, sem as garras poderosas que prendem, sem a visão longilínea e acurada, sem a moral, o Ethos, etc.

Então o Titã Prometeu (que significa previsão), irmão de Epimeteu, notou que o Homem criado havia sido feito inteligente, pois poderia se maturar com o tempo, sendo assim superior aos outros animais, devendo também ter um dom especial para lidar com essa inteligência. Inteligência não é sinônimo de sabedoria, mas tão somente é a capacidade pensante entre escolhas, do tipo: um cão não pode pensar se pisca com um olho só ou se come com garfo e faca, o ser humano sim. O animal tem instinto, o humano tem inteligência. Sabedoria vem a ser um conhecimento de bom senso que dá ciência à justeza que contraria a verdade atual para uma eterna, por isso os mitos e lendas estão evidentes desde a mais remota antiguidade. Na sabedoria existe o exemplo a ser dado e transmitido, enquanto que na inteligência existe o raciocínio pensante que lhe permite as escolhas mais variadas, trata-se do local onde mora o ego que nos permite fazer julgamentos certos e errados, as escolhas segundo o livre arbítrio. Na inteligência há o julgo, na sabedoria há a mensuração. No processo iniciático, a inteligência dá lugar à sabedoria e o Ego dá lugar ao Espírito. Iniciados não pensam com o ego mas sim com o Espírito.

O fogo é o conhecimento divino, por isso só os deuses possuíam a sabedoria desse elemento. O fogo foi criado por Hermes e por isso as escolas mágicas são herméticas. Hermético é sinônimo de ‘não-concreto’, pois o que há ali deve e está pra sofrer uma acabativa. O fogo não é concreto porque não se pode pegá-lo ou segurá-lo diretamente.
Prometeu então decidiu dá-lo aos Homens, e este ato, foi interpretado como roubo pelos deuses, esquecendo-se os deuses, de que Prometeu era “O Oráculo” e ele já conhecia seu futuro, bem como o castigo que a ele foi imposto por Zeus/Júpiter. Vale lembrar que Prometeu é significantemente comparado a Lúcifer como O Portador da Luz em outras mitologias.

Naquele tempo antes de Zeus/Júpiter chamado ERA DE OURO de Saturno, os seres humanos eram felizes e viviam em harmonia com a natureza. Não havia fome, guerra, inveja, frio, desconforto,... E viviam agora com o presente de Prometeu, o divino fogo.
O humano que controla o fogo é o bruxo que controla seu destino.

Por ter cometido tal ato de ‘felonia’ contra os deuses, Prometeu foi agrilhoado a uma rocha e o seu fígado era comido todos os dias por abutres. Como era imortal, todos os dias lhe nascia um fígado novo, e era comido novamente e as dores eram imensas e intermináveis, esse foi o castigo pelo desagrado dos deuses perante seu ato, até ele ser libertado pelo décimo terceiro herdeiro e descendente da linhagem de Io, ou seja, por Heracles/Hercules durante os Doze Trabalhos. Só se liberta das dores do sofrimento do ego, após o ardor do aprendizado da feitura do ‘sal de fruta’ ou ‘figatil’ das situações vitais, das condições e circunstâncias do fogo espiritual.

Os Doze trabalhos de Hercules fez do iniciado um Ser liberto das dores do castigo, das culpas e dos apontamentos. Numa tradução livre, esses trabalhos podem ser traduzidos em absolvição de si para consigo mesmo e para com todos.
Nessa época havia apenas homens, a Mulher ainda não tinha sido criada.
Como forma de castigar os mortais, por terem aceitado a dádiva de Prometeu, os deuses se reuniram no Monte Olimpo para que juntos criassem a Mulher e depois oferecê-la a Prometeu. Cada deus ofereceu-lhe uma dádiva divina e decidiram chamar-lhe Pandora (Πανδώρα) que significa: “todos os dons”, na língua grega, para que Prometeu pudesse dar o que tinha, todos os dons, à humanidade, assim como fez com o fogo.

Hefestos/Vulcano, deus dos artífices, da forja e da metalurgia, moldou-a do barro e deu-lhe as suas belas formas; Atena/Minerva, deusa da caça, da tecelagem e da estratégia de guerra, deu-lhe belas roupas; As Cáritas/As Graças, (Agleia a beleza, Eufrosina  a alegria sorridente e Tália a boa disposição), deusas do charme, da beleza, da natureza, da criatividade e fertilidade, deram-lhe belos ornamentos; Afrodite/Vênus, deusa da beleza, sensualidade e sexualidade, inspirou-lhe beleza; Apolo, deus da medicina, da música e da poesia, deu-lhe talento musical e o dom da cura; Deméter/ Ceres, deusa da agricultura e do solo, ensinou-a a tornar belos os jardins e frutíferos os campos; Poseidon/ Netuno, deus das águas do mar e dos sentimentos, dos cavalos e dos terremotos, deu-lhe um colar de pérolas marinhas e a habilidade de nunca se afundar; Zeus/ Júpiter, deus dos trovões e dos relâmpagos, tornou-a ociosa, brincalhona e tola (elementos para desacordo); Hera/ Juno, deu-lhe a curiosidade (o componente essencial da personalidade de Pandora no mito); Hermes/ Mercúrio, mensageiro dos deuses, (a face do diabo) e deus dos viajantes, dos pastores, dos oradores, do engenho, da literatura, dos poetas, do desporto, das medições, da invenção e criatividade (foi ele quem criou o fogo), da velocidade, do comércio, das fugas, oratórias, falsidades e oposição, deu-lhe astúcia, ousadia e charme. Só pra notar, Hermes sempre foi o único Deus a fazer a ponte entre o céu e o inferno a hora que quiser.

Zeus mandou Hermes entregá-la a Prometeu. Este, desconfiando que nada de bom os deuses lhe poderiam dar, recusou o presente e aconselhou o seu irmão, Epimeteu, a fazer o mesmo. Mas Epimeteu tinha uma natureza mais crédula e não tinha dom oracular para prever o futuro, quando viu Pandora, exclamou "Certamente que um ser tão bonito e gentil não pode causar mal algum!" e aceitou alegremente ficar com o presente. Os primeiros dias foram maravilhosos e o seu amor despontou.

Uma noite, estando os dois a dançar no jardim, viram Hermes a passar. Os seus trajes estavam esfarrapados, os seus passos lentos e as suas costas arqueadas sob o peso de uma grande caixa. Pandora imediatamente quis saber o que tinha na caixa. Hermes evitou a questão, pedindo unicamente para deixar à sua guarda a caixa, pois já estava muito cansado. Brevemente voltaria para levá-la de volta, e partiu. Epimeteu voltou para dentro de casa, mas Pandora ficou sozinha com a caixa. A sua curiosidade aproximou-a da caixa, de onde saíam vozes neuróticas que diziam "Pandora, doce Pandora, tem pena de nós e liberta-nos!". Pandora, ouvindo Epimeteu regressar, decidiu dar só uma breve espiadela no interior da caixa. Acontece que Júpiter tinha colocado na caixa todos dos demônios que não deveriam ser expostos na era de saturno, esses eram as doenças, invejas, desconfortos e defeitos que estavam afastados da Humanidade. Assim que ela abriu a caixa todos eles saíram rapidamente e espalharam a miséria, a loucura e a dor pelo Mundo. Assim que Epimeteu chegou pela primeira vez eles discutiram. Mas no meio da discussão ouviram uma voz vinda da caixa que lhe pedia para a libertarem. Epimeteu abriu pela segunda vez a caixa e dentro viu a Esperança, cuja missão era descansar aqueles afetados pelos seus companheiros de caixa. Esperança era um tipo de antídoto para aqueles males, feita da mesma substancia que eles, sendo um mal para os próprios males. Pandora e Epimeteu rapidamente fizeram as pazes e a Esperança saiu para o Mundo para aliviar esperançosamente as outras pessoas.

Considerações da análise do mito

Primeiramente Zeus, querendo castigar os homens, tenha engendrado a Mulher a partir da sua própria (Hera), para castigar Prometeu. Zeus estava indiretamente a castigar a vontade humana (até então só existiam homens) de se equiparar aos deuses (a famosa hibrys grega) e as mulheres são o componente mais divino do Homem, a contraparte dele. Pandora é a primeira mulher.

Não obstante, os dons dos Deuses, a vingança de Zeus na inconstância, a da sua esposa na curiosidade e o de Poseidon, de não se afogar (fizeram dela mais esperta, a mulher muda como as marés da lua, a tudo quer saber, e quando chora não se afoga, ela se salva das águas perturbadoras);

Epimeteu aceitou a prenda destinada ao irmão. A lição é que não se deve aceitar prendas ou pessoas recusadas por outros e, além disso, não nos devemos fiar em belezas aparentes e externas.
É verdade que Pandora estava curiosa para ver o interior da caixa, mas só decidiu abrir a caixa quando ouviu Epimeteu chegar, talvez para impedir que ele o fizesse ou para ver primeiro que ele. Mais uma vez constatamos que, por vezes, a tentativa de impedir algo, é o que conduz à sua realização.

Não foi meramente a curiosidade que a levou a abrir a caixa. Foi também por consideração perante os pedidos de libertação vindos da caixa. Há aqui também um fundo de bondade num ato referido como sendo unicamente de curiosidade. A voz que ela ouvira, era a voz do mal (kokadaimon) pedindo por socorro, e todos os seres humanos tem seu neurótico complexo de herói dentro de si, e deseja naturalmente salvar alguém, mesmo quando não se dá conta de libertar à si própria ou simplesmente não sabe que precisa nem como fazer. A esperança não faz o papel do agathodaimon.

Não foi unicamente Pandora quem abriu a caixa, e a caixa na verdade era uma ânfora, um vaso que no mito foi retratada como caixa. Também Epimeteu abriu a caixa. Desconhecia o interior da caixa e abriu mesmo assim. Pelos vistos, os supostos "defeitos" femininos são também masculinos, e isso nos mostra que a fraqueza é humana e não está no gênero, mas sim no ego, e a fortaleza é divina porque é espiritual.
Uma vez que a Esperança estava na caixa juntamente com todos os males da Humanidade, ela é um mal que aflige a Humanidade também.  Bom, talvez quando as pessoas têm a tendência de se agarrar à Esperança de que tudo melhorará e não vê que lhes cabe fazerem por mudar as coisas. A Esperança pode conduzir à inação ou servir como desculpa para ela. Talvez a Esperança seja o Mal mais sorrateiro para alguns, pois aparenta ser boa, apesar de lerda e dependente. A Bondade não se atrasa nunca, somos nós que a “atrasamos”, nós quem a impedimos ou não, de agir no seu tempo natural e espontâneo. Vem daí a necessidade da forja do caráter pelas mãos de Vulcano. Uma coisa liga à outra. Zeus sabe tanto punir quanto premiar. 

A Humanidade foi criada feliz e realizada na ERA DE OURO Saturnina, sem males, sem aflições, sem invejas, sem defeitos... Antes de ter Esperança. A Esperança já existia, mas estava trancada, só foi libertada da caixa depois da criação de Pandora, antes disso a Humanidade era feliz sem esperança. A esperança nunca foi uma condição necessária à felicidade. Esperança vem do verbo esperançar que significa “expectativa boa”, e sua contra parte é o desespero. Toda expectativa gera frustração quando não é realizável, assim como toda esperança anda de mãos dadas com o desespero (dentro da caixinha cerebral), tal qual luz e sombra não coexistem um sem o outro. Eis o franco demônio, ou o diabo da vez, em nossa era. 
Por outro lado a Humanidade vivia num mundo perfeito, em que não havia males nem sofrimento. A Esperança era então desnecessária. Contudo, no mundo imperfeito em que vivemos, a Esperança é o mal mais necessário, principalmente para os mundanos... Assim, a humanidade sempre tem esperança em tempos de mal, mas tem muita esperança de recuperação.
Um princípio de informação nos é dado quando a filha de Epimeteu com Pandora foi chamada Pyrrha, que se casou com Deucalion e foi um dos dois que sobreviveram ao dilúvio que mudou a Era para sempre.

A história de Pandora pode ser interpretada por mais de um caminho, mas uma moral óbvia é a de que "a curiosidade matou o gato", ou melhor, a curiosidade abriu o vaso. 
Alguns estudiosos afirmam que a caixa de Pandora pode ter sido um erro, e sua "caixa" pode ter sido um grande jarro ou vaso, forjada a partir da Terra.  Na verdade, há evidência que sugere que Pandora foi o próprio jarro.  Na Grécia Antiga, boiões comumente suportaram imagens de mulheres.  O frasco mostrava ter sido uma jarra em forma por causa da similaridade entre uma jarra e um útero.
O erro é geralmente atribuído ao século XVI. O Humanista Erasmo de Rotterdam, foi quem traduziu o conto de Pandora de Hesíodo, nota-se que,  Hesíodo usava a palavra "pithos" que se referia a um recipiente utilizado para armazenar grãos.  É possível que o Erasmo confundisse "pithos" com o "Pyxis", que significa caixa.  O estudioso ML West escreveu que o Erasmo pode ter misturado a história de Pandora com o encontrado em outra parte da história de uma caixa que foi aberta por Psyche, mas certamente Hesíodo conhecia bem o fundamento de uma Pithonisa antes de Pitágoras.
Esperança é considerada um mal nesta história, porque, de acordo com Hesíodo implica o controle do futuro, e uma vez que ninguém pode controlar o futuro, ter esperança é um engodo.  Outras pessoas pensam que a esperança de manter-se na “caixa” simboliza esperança da humanidade muitas vezes sendo apenas conforto. 
O texto grego original é de 700 aC, de Obras e Dias de Hesíodo, de onde vamos buscar a mais rápida sobrevivente história da caixa de Pandora, que é realmente uma "jarra", e não especifica exatamente o que estava na caixa quando Pandora a abriu, sendo essa caixa ou jarro a própria mente, e não se pode especificar o que há dentro da mente de alguém que contém todos os dons, mas seguramente não se pode lidar com todos seus dons sem aquilo que reside dentro da caixa.
O estudioso ML West escreveu que a história de Pandora e seu jarro é derivada de uma pré-história ou lenda Hesiodíaca e é isso que provoca a confusão e problemas com Hesíodo na sua versão inconclusiva.  Ele escreve que em anteriores lendas, Pandora era casada com Prometeu, e cita o antigo catálogo de como as Mulheres preservaram esta antiga tradição, e que o frasco continha apenas coisas boas para a humanidade, os ensinamentos e testes iniciáticos.  Há também uma questão, a saber, do que era feito a esperança, cujo sentido naquela época não é o mesmo de hoje. O que é bem para a humanidade, fazendo uma jarra cheia de males para a humanidade?  Daí em diante as histórias entram em jogo.
  
Ele também escreve que este pode ter sido os papéis de Epimeteu e Pandora e seus papéis foram transpostos das lendas e histórias pré-Hesiodíaca.
Ele observa que há uma correlação curiosa entre a Pandora sendo feita de terra na história de Hesíodo, em que se encontra em Apollodorus que Prometeu criou o homem da água e da terra. 

Martin P. Nilsson escreve que a parte sobre Esperança sendo deixada na caixa foi provavelmente acrescentada posteriormente: uma seqüela da lenda original.
O conto da Caixa de Pandora também mostra como os gregos patriarcais imaginaram a mulher sendo criada pelos deuses com o ‘mal’ no interior e bonita por fora, a fim de ensinar os homens a lidar com isso, e nesse sentido Pandora é a primeira bruxa grega.  Desta forma, o conto tem, em alguns níveis superficiais, similaridades judaico-cristã com muitas histórias, sendo Pandora a primeira mulher, como Eva, nos remete à Lilith como a primeira feminista. 

Diversas feministas estudiosas acreditam que, em um primeiro conjunto de mitos, Pandora foi a Grande Deusa, provedora dos dons que a vida e a cultura tornam possíveis, e que o conto de Hesíodo pode ser visto como parte de uma campanha de propaganda para rebaixá-las de seu estado anteriormente reservado. Se afirmarmos que isso seja verdade, então nos obrigaríamos culpar todos os homens, o que faria uma ferida contrária em nossa sociedade muito maior que aquela causada pelo patriarcado, do qual até mesmo os homens de hoje são vítimas. Para visualizar uma suplente de Pandora, vemos em Spretnak Charlene's Lost Deusas da Grécia Precoce; uma coleção pré-helénica de Mitologia, 1978.  Para visualizar uma suplente de deusas, em geral, e histórias como as de Eva e Pandora em relação às mulheres e o mal, ver Merlin's Stone Quando Deus era uma mulher.

Esperança em grego provém de Ελπις, = elpis, e seu contexto em Obras e Dias, linha 96 de Hesíodo, Moore afirma que é melhor traduzida como "antecipação do infortúnio", em vez de simplesmente "esperança".  Presume-se que Moore está dizendo que a humanidade poderia evitar alguma desgraça por antecipação com o que lhes foi deixada sobre o aro de Pandora da jarra.  Alguns léxicos gregos rendem algum apoio para a observação de Moore. As palavras de Moore são mais exatas sobre o assunto na página 37, são: "Ela [Pandora] abriu um frasco contendo todo tipo de mal, que imediatamente voou para fora dos humanos. Somente Ελπις [elpis] permaneceu ali --- uma palavra praticamente equivalente à nossa Esperança, mas que significa "antecipação do infortúnio". Cabe então a única praga para a qual o homem não é sujeito. Ele é obrigado a sofrer, depois de ter sido envolvido no pseudo-erro original de Prometeu, que pretendia enganar Zeus do sacrifício devido, e de fato se Prometeu não o tivesse feito, hoje os deuses não seriam mais lembrados porque nem saberiam o que é o Espírito (fogo divino). Esse é o conto sagrado oferecido como uma explicação da presença dos males sobre a terra. Os males ensinam como lidar com eles próprios.
  
ML West também tem uma exposição e comentário sobre as palavras utilizadas, de suas obras sobre a página 169 de Hesíodo, editado com prolegómenos e comentários.  Pedro Pucci, no seu Hesíodo da Poesia e da Língua, também aborda o sentido pleno de Ελπις, p.124, ff.51 e diz "Ελπις corretamente significa um maior conjunto de expectativas que a nossa "esperança”, pois implica esperança, expectativa, e até mesmo o medo que nos mostra Homero da Ilíada 13:309, 17:23, etc.  Pucci passa a escrever sobre p.104, Esperança que não foi sempre considerada simplesmente boa para a humanidade, citando Obras e Dias por Hesíodo, linha 498 [500], "Esperança [Ελπις] é uma má companhia para o homem que se senta na necessidade ociosa em um lugar, quando ele não tem meios suficientes". 

ML West, Obras e Dias, p.168.  "Hesíodo se esquece de dizer de onde o jarro veio, e o que Pandora tinha em mente quando ela abriria, e o que exatamente nele continha".  Oeste vai dizer que isto contribuiu para a "lenda inconclusiva de Pandora". 

Em Padraic Columbia, Orfeu, Mitos do Mundo, p.71, 1930, encontramos:  "O frasco, como Pandora, tinha sido feito e preenchido de má-vontades de Zeus. E que tinha sido preenchida, não com salves e encantos e lavagens, como as mulheres pensavam, mas com cuidados e problemas”.  Isso deve ser encarado com ceticismo acadêmico, diz, pois é uma extrapolação ver a nau Pandora sendo ela mesma.
Sujoy Deyasi, Uniphase faz menção assim, em Uma Solução para o Albert Einstein's Unified Field Theory, 2003:  "Na história da caixa de Pandora tem uma mulher representando o útero (o útero, o navio em que chega uma nova vida neste mundo), e abertura da mesma, quer por Pandora ou pelo marido deus Epimeteu se refere ao nosso conhecimento que a consciência podemos fazer sexo a qualquer hora. O que saiu da caixa é a emoção humana." Este discurso deve ser encarado com ceticismo educacional, pois está muito longe do mainstream.  Só incluí aqui para cumprir sua prévia citação. 

Referências para consulta

Apollodorus, Biblioteca e epítome, ed. Sir James George Frazer
Clifford H. Moore, O pensamento religioso dos gregos, 1916.
Hesíodo, Obras e Dias, 700 aC
Martin Litchfield Oeste, Hesiodic O Catálogo das Mulheres: a sua natureza, estrutura, e as origens, Oxford, 1985. 
Martin Litchfield Oeste, Obras e Dias / Hesíodo, editado com prolegómenos e comentários por ML West, Oxford, Clarendon Press, 1978. 
Martin P. Nilsson, História da Religião Grega, p.184.
ML West, Obras e Dias, p.168 
NILSSON, Martin P. História da Religião Grega, 1949.
Pucci, Pietro.  Hesíodo da Poesia e da Língua, 1977.
Smith, William, Dicionário de gregos e romanos Biografia e Mitologia, 1870, artigo sobre Pandora.
Zarecki, Jon: Pandora and Strife: “The Mistaken Perception of Misogyny in Hesiod”. Universidade da Flórida, em:
http://cognosco.blogs.sapo.pt/arquivo/579930.html
http://www.camws.org/meeting/2005/abstracts2005/zarecki.html